1.4.13

A lenda do caminhãozinho

Um rapaz senta na mesa de um bar com um amigo e vai logo falando:
- Marcão, tenho uma amiga da minha namorada pra te apresentar. Gata, inteligente pra cacete, ganha uma baita grana no mercado financeiro. E tá querendo um namorado.
- Porra, Juneba! Linda, inteligente e com grana? Que roubada você tá querendo me meter!

Em 20 anos de mesa de bar, eu nunca vi uma conversa parecida com essa. Mas, a julgar pelos textos que andam pipocando por aí, querem me fazer acreditar que ela é possível. Depois de "Homens não gostam de compromisso", a nova onda da eterna (e boba) guerra dos sexos é "Homens tem medo de mulheres lindas, inteligentes e bem sucedidas".

Eu fico imaginando como é que uma mulher chega à conclusão "ele não suportou minha boa aparência, meus conhecimentos e minha carreira". Ele reclama que ela anda bonita demais? Dos presentes caros que ela dá? Das conversas sobre arte e política? "Desculpa, amor, mas você é muita areia para o meu caminhãozinho." Papo furado. Isso é apenas a versão anos 2000 de "O problema não é você, sou eu." Realmente, nisso eu faço um mea culpa coletivo, homens são péssimos para terminar relacionamentos. E talvez essa inépcia masculina em colocar todos os pontos nos "is" até ajude a deixar um vácuo para teorias furadas. Já a minha teoria diz que é mais fácil encontrar uma explicação nas falhas dos outros do que nas nossas próprias. Não que as coisas tenham ido mal porque tenho o pé feio, ou sou prepotente, ou porque o amor acabou. Não deram certo porque ele é um fraco para suportar minha envergadura estética-sócio-intelectual.

Sinceramente, eu odeio escrever sobre essas pelejas homem x mulher. Acho que a gente precisa se amar mais e brigar menos. Mas chega uma hora que não dá pra ficar vendo a classe masculina apanhar como Judas, aproveitando a proximidade da Semana Santa. Ainda mais com uma bobagem dessa. Pode ser que eu esteja falando apenas em meu nome, e da turma de amigos que eu freqüento, mas nós adoramos mulheres lindas, inteligentes e bem sucedidas. E também as que diferente disso. Acontece que, do mesmo jeito que essas características não nos assustam, também podem não ser suficientes para nos segurar.