1.10.06

A Festa - estranha com gente esquisita - da Democracia

Essa é, definitivamente, a eleição mais estranhas que já presenciei na minha vida. E olha que minhas lembranças sobre o pleito são muitas e distantes...

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A política gravitou na minha vida desde cedo. Estar em Brasília e ser filho de um funcionário da Câmara ajudaram. E me renderam boas histórias. As mais antigas são da "eleição" do Tancredo Neves. Já era as "Diretas Já", mas, mesmo assim, meu pai arrumou uma porção de adesivos e bottons do Tancredo Neves. E do Maluf. Montei uma barraquinha na varanda da casa da minha vó para vender os adesivos e tentar faturar algum. É, essa veia empreendedora nunca mais foi pra frente. A não ser quando eu vendia traduções xerocadas de "London, London" para as menininhas do Santo Antônio. Mas isso é outra história.

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Para a posse do presidente, uma comitiva de Minas Gerais aportou na minha casa. E eu, moleque, tentando entender aquilo tudo. Entre os quase 20 hóspedes (repito, quase 20 hóspedes) no meu apartamento, o futuro prefeito de BH, Governador de MG, Senador da República, Eduardo Azeredo. O pai dele, Renato Azeredo, foi um dos mais importantes políticos do Brasil. O meu pai trabalhava para ele e era o deputado que enrolava os cigarros de palha que eu fingia fumar nas festas juninas da Escola Classe da 314 Sul.

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Foi na mesma época uma feijoada surreal acontecida lá em casa. Coitada da minha mãe, que nessas horas era cozinheira e camareira de toda essa turba. Só lembro do Aecinho, quando só era ainda o neto do Tancredo, e do Hugo Carvana almoçando sentados na minha cama. Não me perguntem como o ator foi parar lá em casa. Bom, o presidente não estava, então não podem acusar a feijoada da minha mãe de ser a culpada pelo piripaque queo Tancredo teve depois.

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Depois de toda essa confusão, vieram as primeiras eleições de verdade para presidente. E a diversão era conseguir os adesivo dos candidatos. Desta vez só pra colecionar mesmo, não pra vender. Lembro de revirar o Setor Comercial Sul atrás dos comitês, pra completar minha coleção. Até um adesivo do Marronzinho (lembram dele?) eu consegui. Só não consegui mesmo um do Gabeira. A porta do comitê do PV estava trancada e, apesar de ouvir barulho lá dentro, ninguém abriu quando chamei. Lembro de ter achado estranho o cheiro de mato queimado que vinha do escritório. "Eles não são contra as queimadas?" Criança é muito curiosa. Foi nessa época, também, que entrei para o Clube dos Tucaninhos, do PSDB. Pena eu não ter mais a carteirinha pra mostrar. E sempre jurei ter votado no Mário Covas. Agora me lembrei que votei, sim, nele. Mas em uma votação organizada na escola, já que eu só tinha 12 anos em 89.

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Sobre os anos Fernando Henrique eu não tenho nada muito interessante pra contar. Acho que eu (e os meus hormônios) tínhamos coisas mais importantes pra fazer do que correr atrás de adesivos de candidatos.

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Na última eleição, votei no primeiro turno e fugi para a Europa no segundo. Mas acompanhei, de longe e emocionado, a posse do presidente-operário. E respondi com esperança às perguntas feitas pelos gringos sobre o futuro do Brasil. Voltei, participei desse governo e vi todas essas esperanças, que tinham vencido o medo, indo por água abaixo em um valerioduto.

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E agora isso. Uma eleição estranha, que misturou um asco, uma indignação de uma parte das pessoas, com as leis eleitorais mais esquisitas e os menores caixas (1 e 2) de todos os tempos. Ia ser difícil conseguir uns adesivos pra vender se eu ainda fosse um garoto. E ainda podia ser preso por isso. Semanas se passaram até que algum movimento de campanha aparecesse nas ruas. Parece que em todo país foi assim. E uma luta, uma luta dura pra escolher em quem votar. Até achei bom ter que justificar meu voto no primeiro turno, mas não escapo do segundo. Duro vai ser justificar o voto em qualquer um dos candidatos. Mas será que isso não é bom? Esse nosso nível de exigência crescendo? Em 89 era Aureliano Chaves, Afif, Enéas, Collor... E, pelo menos é o que eu me lembro, as pessoas não tinham essa dor toda pra votar.

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Bom, essa é a minha carreira política. Eu não sei você, mas acho que política tem que ser discutida em mesa de bar sim. Ou em blog. Porque sou eu que agüento essa turma toda em Brasília depois. Mas, pelo menos umas boas histórias a gente tem pra contar depois, como a festa que juntou Dirceu e Bornhausen. Mas isso eu conto na eleição que vem. Bom voto, pessoal.

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