2.2.05

Céu de Barcelona

E essa coisa toda de Brasília e suas idiossincrasias me lembrou uma história dos tempos de Barcelona. Eu, com minha típica aversão brasiliense a vizinhos, fui obrigado a pedir um ovo emprestado ao morador do lado no prédio onde eu morava. Era véspera de Natal, todos os supermercados fechados, e o ingrediente era essencial para a minha ceia: um filé à parmegiana. Vocês imaginam, brasileiro, duro, morando longe da família, tem que improvisar nessas horas. E a saudade do prato, também, foi mais forte do que qualquer tradição. Diante então da impossibilidade de se fazer um parmegiana, assim como uma omelete, sem quebrar os ovos, venci o sentimento anti-social e toquei a campainha do 4º 1ª. Me atendeu uma legítima senhora catalana, impecavelmente arrumada e naturalmente desconfiada. Depois de um castelhano nervoso e um sorriso simpático, lá vinha ela, com um huevo na mão e um olhar mais tranqüilo. Acho que era o espírito natalino que, afinal, amolece até os mais frios catalães. Um "Bon Nadal" completou a conversa e ali ganhei um presente pra trazer pra Brasília: a certeza de que um vizinho, por mais antipático que possa parecer, não morde ninguém.

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