28.10.08

Tatuagens novas. Texto antigo.



Funciona mais ou menos assim: você escuta os outros falando como é bom, vê algumas pela rua e aquilo acaba despertando a curiosidade. "Como seria se eu tivesse uma tatuagem?" A partir daí é possível que você pense mais seriamente no assunto ou simplesmente deixe o tempo passar. Até que um dia ela aparece. A ilustração perfeita. Claro, tem gente que pega qualquer desenho porque "acha bonito", porque "é legal". Outros preferem fazer uma pesquisa mais detalhada. Mas, pra mim, ela surgiu naturalmente. Uma figura que tem a ver comigo, que diz algo sobre mim, e que, porque não, me completa. Começa a fase do namoro, da análise, das dúvidas, "será que é isso mesmo que eu quero?". Porque não dá simplesmente para pensar "Ah, se não ficar bom, eu tiro". E, assim, chega o dia da decisão enfim tomada. Felicidade e ansiedade em doses iguais, por aquilo que somente está por vir. Mas tudo isso passa. E vem a dor. Estridente, desconcertante. Sim, suportável, mas que desestabiliza e, por alguns instantes, faz esquecer todas aquelas coisas boas do processo: a escolha do desenho, as melhorias feitas nele com o tempo, a notícia dada aos amigos. Uma dor que, apesar de tudo, é necessária. A gente levanta daquela mesa e promete nunca mais se sujeitar àquilo de novo. Passar por tanto sofrimento não vale a pena. Não compensa. Aos poucos a ferida das agulhas cicatriza. Cria-se uma casca, preparação para a pele nova que nasce. A coceira te recorda algumas vezes do que a pouco você passou. Até que um belo dia, do nada, você se esquece. Da tatuagem e da dor. E olha que o desenho está ali. O sentimento, não mais. Vez ou outra a gente dá de cara com a imagem te olhando no espelho. Ou alguém lembra você dela. Mas a marca já se incorporou. Depois de tudo já não parece tão absurdo fazer outra. E foi assim, pensando em fazer minha segunda tatuagem, que eu encontrei, despretensiosamente, uma interessante metáfora para o amor.

25.08.2004 (na época da minha primeira tatuagem)

4 comentários:

Inspiral Brasil disse...

Parabéns, Lu. Amei a tatoo! Antes a dor das marcas que escolhemos do que aquelas que dolorosamente aparecem sem que desejemos.Ui.

Anônimo disse...

Curti também

Ricardo disse...

Tudo a ver.

Reca disse...

O texto ficou lindo e a sua amiga "square" entende menos ainda o porquê!