9.3.06

Uma noite de volta

O toque do celular pareceu mais um trem zunindo na minha cabeça. Imediatamente, no silêncio entre a primeira e a segunda chamada, outro zumbido dolorido foi aumentando de volume nos meus ouvidos. Eu não me lembrava de nada da noite anterior, mas a secura asfixiante na garganta e na boca eram um bom indício da bebedeira. Sem abrir os olhos, corri a mão pelo criado mudo procurando o telefone. A voz suave do outro lado contrastou como nunca com os meus grunhidos.

- Você tá bem?
- Definitivamente não.
- Fiquei preocupada com você ontem.
- Eu tava tão mal assim?
- Não, tava até engraçado. Mas dava pra ver que você tava louco.
- ...
- E que história foi aquela de dar uma frase pra cada amigo guardar?
- Frase pra amigo guardar?
- Você parecia que tava delirando, dizendo que ia dar uma frase, um pensamento que viesse na cabeça, pra cada amigo que encontrasse. E depois pegaria de volta. Tava com medo de esquecer suas viagens.
- Papo de bêbado drogado. Não liga.
- Pareceu bem sério.
- Porque? Eu "te dei" alguma frase?
- ...
- Paula? Diz, que frase eu te falei?
- Que querer amar alguém, e não conseguir, é a pior vontade que uma pessoa pode sentir.

To be continued

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