13.3.06

Uma noite de volta

Da penúltima vez que encontrei o Júnior, eu me lembro. Foi quando ele me contou aquela história triste, dele com a ex-namorada. Eles se conheceram quando ela era só uma modelete, ganhando alguns trocados por incontáveis horas de trabalho. Com o tempo, a paixão dele, e a fama dela, cresceram. Mas nem mesmo a grana que ele tem, que não é pouca, foi suficiente pra acompanhar a nova vida da menina. As viagens internacionais a trabalho, as festas e os camarotes onde só ela podia entrar e os meses sem se encontrarem deram um jeito no romance. "O amor supera tudo é o cacete" ele repetia choroso. Ontem eu também estive com ele. Mas só lembrei - modo de dizer - depois de esbarrarmos no balcão da padaria, onde eu tentava engolir mais um suco de laranja.

- Nossa! Aproveitou mesmo a festa ontem, hein?
- Fala baixo, Júnior. Por favor.
- Eu nunca vi show igual. Nunca vou esquecer.
- E eu, pelo jeito, nunca vou lembrar.
Ele soltou uma gargalhada, fazendo minha cabeça latejar ainda mais.
- Escuta, ontem eu te pedi pra guardar uma frase pra mim?
- Ah, aquela história de "guardar uma frase pra você". O que você tomou, hein?
- Não interessa, Júnior. Você lembra ou não da tal frase que te falei?
- Eu tinha até gravado no celular, pra não esquecer, mas a porra da frase não sai da minha cabeça desde ontem.
- E qual é?
- Certas pessoas não são feitas pra entrar na nossa vida. Só devem passar e deixar marcas inapagáveis nela.

To be continued

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