26.7.04

As mensagens dos filmes

Feche os olhos e imagine a cena: depois de um longo e tedioso dia de trabalho você vai ao cinema buscando a distração, a diversão e a paz que só uma sala escura pode propiciar. O filme começa com uma cena de nudez fotografada por Walter Carvalho, o que a torna muito mais do que uma simples cena de nudez, e, de repente, seus pensamentos já totalmente imersos naquela poesia em forma de imagem são interrompidos por um grito de "DILIÇA!!!!!" Isso mesmo: "Diliça". Bem, sendo eu um cara muito otimista e como o filme estava apenas começando, quis acreditar que fosse apenas uma reação isolada, talvez causada pela mesma emoção que aquela primeira passagem me causou, com um pouco mais de "verve", para não dizer descontrole, é claro. No entanto o filme prosseguiu e os gritos também. Sem contar os mais imbecis comentários. Não, não sou um daqueles pseudo-intelectuais que gostam de fazer observações inteligentes sobre a película enquanto assistem. Quero somente o silêncio. Mas escutar "Ela está sem calcinha" pelo menos umas 10 vezes durante a projeção irritaria qualquer espectador. Rapaz calmo e controlado que sou atualmente, preferi não repetir algumas de minhas passagens cinematográficas no cinema nas quais fui protagonista de discussões woodyalleanas por causa da falta de educação. Levantei-me e troquei de lugar pois o "comentarista", além de tudo, estava apenas uma fileira atrás de mim. E toda essa história se prolongou até o fim. Coisas assim realmente podem estragar uma boa noite de cinema e só conseguia pensar, no fim da sessão, em improvisar uma forca com um rolo de filme e colocar ao redor do pescoço daquele indivíduo. Quem sabe, talvez, aproveitar a inflamabilidade da película e também atear-lhe fogo. Tudo para aplacar um pouco a minha irritação. Mas, como muitos bons filmes, essa história também tem uma reviravolta e uma mensagem no final. Aquele homem, nos seus 34, 35 anos, fazia parte de um grupo de pessoas. Pelas roupas que usavam, pareciam ser pessoas humildes, trajando seus melhores costumes, aqueles guardados para ocasiões especiais. Chegaram ali de ônibus, e não um desses com cadeiras estofadas e ar-condicionado, mas um daqueles sujos e duros que muitas pessoas são obrigadas a agüentar diariamente. Posso até estar enganado, mas para algumas daquelas pessoas, certamente, poderia ser a primeira vez em um cinema. Ou uma segunda. E logo para ver um filme como Amarelo Manga. Me veio à cabeça as primeiras vezes que freqüentei o cine Atlântida. E o quanto gritei vendo Goonies. Abri a porta do meu carro, dei a partida e saí. Um pouco mais calmo.

25.10.03

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